Aula: Contrastes Sociais


Série da TV Escola Direitos do Coração Jonas e Lisa
Texto I
Meu guri

Chico Buarque

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá

Olha aí .Olha aí …
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta conrrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço de mais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo, de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

Texto II

Burguesinha – Seu Jorge

( Composição: Seu Jorge, Gabriel Moura e Pretinho da Serrinha )

Vai no cabelereiro
No esteticista
Malha o dia inteiro
Pinta de artista

Saca dinheiro
Vai de motorista
Com seu carro esporte
Vai zoar na pista

Final de semana
Na casa de praia
Só gastando grana
Na maior gandaia

Vai pra balada
Dança bate estaca
Com a sua tribo
Até de madrugada

Burguesinha, burguesinha, burguesinha,

burguesinha, burguesinha…
Só no filé
Burguesinha, burguesinha, burguesinha,

burguesinha, burguesinha…
Tem o que quer
Burguesinha, burguesinha, burguesinha,

burguesinha, burguesinha…
Um croassaint
Burguesinha, burguesinha, burguesinha,

burguesinha, burguesinha…
Suquinho de maçã

Texto III

“De quem são os meninos de rua?”

Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou o meu braço, falou qualquer coisa que eu não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora.
Talvez não fosse um Menino de Família, mas também não era um Menino de Rua. É assim que a gente divide. Menino de Família é aquele bem-vestido, com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe compra outro se o dele for roubado por um Menino de Rua. Menino de Rua é aquele que quando a gente passa perto, segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão. […] Na verdade, não existem meninos De rua. Existem meninos Na rua. E toda vez que um menino está Na rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.

Marina Colasanti
Questões:
1- Qual a sua posição diante da situação descrita pela autora do texto “De quem são os meninos de rua”?
2-Que olhar podemos lançar sobre a realidade e que ações podemos desempenhar na sociedade para escrevermos, de fato, uma nova história?
3-Sobre a letra da música “O meu guri”, de Buarque de Holanda, conte o que você entendeu da narrativa.
4- Que relação você vê com o curta “Jonas e Lisa” e os outros textos?